Estranhos dias estes - II

Agosto 2008, 1º dia do Avante
Chovia sem parar e era o primeiro dia, toda a minha roupa estava molhada e eu já não sentia nem frio nem calor, a coisa já tinha tomado outras proporções, fui a uma barraca que vendia bebidas, e como sempre faço, meto conversa com a pessoa que me vai servir, a minha táctica é simples, faço-me de sonsa ou burra como preferirem e depois de ler e estudar os preços dos produtos que lá ofereciam, regateio, todos ou quase pediam cerveja, eu, como não gosto de cerveja, na verdade não me aquece nem arrefece, perguntei quanto era um whisky, o Gajo disse que custava 2,5 €. Continuei: - E que whisky é ? ( Perguntei isto, porque até sou uma beca esquisita com os whiskys, adoro whisky, e ainda acho impressionante o facto de com apenas 55kg aguentar mais que alguns homens com 70 kg ou mais. Acho que isso acontece porque durante alguns anos tinha por hábito jogar às cartas enquanto bebia whisky.)
- Cutty Sark. Respondeu.
Bom, quando ele me disse isso fiquei naquela achei caro, como também simulei algum espanto, ele sentiu-se compelido a servir-me bem até demais.
Expliquei-lhe posteriormente que precisava disso, pois estava dormente com o frio, e se bem que conseguisse controlar todos os meus movimentos, não os sentia.
Resultou e aqueci de facto depois de 3 whisky's apenas, mas o que eu queria contar nem era isto.

Falei com imensas pessoas durante aquele festival, mas houve uma que se destacou.
Ela era uma miuda completamente perdida, tinha um pequeno cartaz que dizia, preciso de um abraço, e com aquele olhar vago e vazio, disse-me para dar um beijo à Rita. Estranhei o contexto despropositado dela, e disse-lhe que não conhecia nenhuma Rita.
Só me disse que iria conhecer...

Esqueci-me disso nos dias que se seguiram.

Já em minha casa, e fora de contextos festivaleiros, tive alguns sonhos agitados e confusos. Ao principio não dava importância, mas como se tornaram repetitivos decidi aprofundar melhor.

Nessa altura eu já nem me lembrava da história de mandar um beijo à Rita. E custava-me relembrar os meus sonhos.

Por isso e como estava de férias decidi ter um pequeno bloco de notas na cabeceira para escrever todos os pormenores de todos os sonhos, mais tarde vim a perceber que aquela miuda do festival estava lá, nos meus sonhos, e se não era ela era alguém muito parecido, a linguagem usada naqueles sonhos era muito metaforica, rosas espinhos, quedas, sombras, silhuetas numeros, e outros elementos que não soube explicar.

Como todos os sonhos mostraram-se incoerentes comparados com os meus sonhos ditos normais e como não entendi, deixei de o fazer.

Hoje sonhei com aquele bloco de notas, aquele bloco de notas que tinha decidido evitar. Sonhei que o abria e percebia. Como se fosse um puzzle.

Mas hoje não sei onde pára o raio do bloco de notas...